O maior festival de arte amadora da América Latina abriu oficialmente sua 38ª edição na tarde desta sexta-feira (21/11), reafirmando a força da cultura gaúcha. O Encontro de Arte e Tradição Gaúcha (Enart) reúne até domingo (23/11), em Santa Cruz do Sul (RS), cerca de 60 mil espectadores e 4 mil artistas de todo o Rio Grande do Sul em competições de dança tradicional, música instrumental, declamação, concurso literário e trova galponeira. Além das expressões artísticas, a Chama Crioula, símbolo da tradição gaúcha e patrimônio cultural imaterial do Estado, também marcou presença no Parque da Oktoberfest.
A cerimônia de abertura contou com a presença do secretário da Cultura, Eduardo Loureiro, que representou o governador no evento e destacou o investimento de R$ 350 mil da Lei de Incentivo à Cultura (LIC). “O Enart é um patrimônio do povo gaúcho e apoiá-lo significa valorizar nossas raízes e garantir que novas gerações tenham acesso à arte e à tradição. O festival fortalece a nossa identidade, enquanto gaúchos que somos, e oportuniza que nosso legado se faça presente para além das nossas fronteiras”, ressaltou o titular da Sedac.
Loureiro também reconheceu o papel das entidades tradicionalistas para a cultura regional, que, segundo ele, não apenas preservam a tradição gaúcha, mas transmitem para as próximas gerações princípios e valores fundamentais para a formação do ser humano.
Também estiveram presentes na solenidade de abertura do 38º Enart o secretário de Turismo do RS, Ronaldo Santini, o secretário de Trabalho e Desenvolvimento Profissional, Gilmar Sossella, a secretária da Cultura e Economia Criativa de Porto Alegre, Liliana Cardoso, e lideranças do Movimento Tradicionalista Gaúcho.
Festival que une gerações
Organizado pelo Movimento Tradicionalista Gaúcho (MTG) e pela Fundação Cultural Gaúcha (FCG), o Enart atravessa fronteiras e une gerações no tablado de apresentações. Realizado desde 1986, mobiliza competidores das 30 Regiões Tradicionalistas (RTs) e reúne pais e filhos em uma demonstração de amor à identidade e à cultura regional.
O uruguaio residente no Chuí, Facundo Modernell, de 23 anos, busca preservar a tradição que aprendeu com o pai e, para ele, o Enart celebra a identidade da vida nos campos do bioma Pampa. “Nós estamos cultivando a parte artística da nossa cultura e, assim, vamos perpetuar a verdadeira essência do campo”, disse, após participar da cerimônia de abertura do festival, na tarde desta sexta-feira (21).
Entre os grupos que subiram ao tablado durante a abertura, o CTG Ronda Crioula, de Farroupilha, trouxe exemplos de como o Enart é também um palco de histórias familiares. Fundado há 71 anos, o CTG soma três títulos na modalidade principal de danças tradicionais (1990, 2013 e 2024) e abriu a programação deste ano com uma apresentação que emocionou o público e marcou a vida dos competidores.
Gabriele Gavighi, de 21 anos, dividiu o palco com os pais, celebrando a trajetória na dança, que começou ainda na infância. Filha de membros ativos da entidade que representa, ela segue o exemplo e participa do Enart em família. “Eu danço a vida inteira, meu pai era professor da minha mãe nas invernadas, a gente vem todo ano, desde o Fegart”, relatou. O Fegart era o antigo Festival Gaúcho de Arte e Tradição, que antecedeu o Enart, deixando de existir em 1999.
Já Elisa Capelari Pedrozo, de 29 anos, viveu um momento único ao dançar no Enart ao lado do pai, instrutor de dança que conheceu sua mãe dentro da entidade, em 1990. “Os 25 minutos que vamos passar no tablado vão ser únicos na nossa vida. Foi por meio do CTG que a nossa família surgiu e hoje coroamos toda essa história”, relatou.
Chama Crioula simboliza fé gaúcha
Marca dos Festejos Farroupilhas, a Chama Crioula também participa do Enart. Acesa em nove de novembro, na basílica de Nossa Senhora Medianeira, em Santa Maria, é conduzida por cavalarianos por 188 quilômetros, até Santa Cruz do Sul. Segundo o vice-presidente de Cavalgadas do MTG, Marcio D’Ávila, ela representa a presença da padroeira do Rio Grande Sul no festival: “a chama é acesa e trazida da basílica há muitos anos, assim, nossa padroeira protege a todos nós”, conta.
Cultura Gaúcha como política de Estado
Durante seu discurso no palanque oficial do Pavilhão Central do Parque da Oktoberfest, Eduardo Loureiro lembrou que, em 2025, a Secretaria da Cultura (Sedac) ampliou o espaço do segmento tradicionalista nas políticas culturais. Além da criação do Colegiado Setorial de Tradicionalismo e Folclore, que é destinado ao assessoramento do secretário da Cultura na execução de políticas do setor, uma Coordenadoria foi instituída para atender as especificidades do segmento.
Por meio do programa Avançar Tchê, o governo do Estado também investiu para fortalecer e difundir o tradicionalismo gaúcho com iniciativas como o Edital Invernadas Culturais, com R$ 1,7 milhão, e o Prêmio Tradicionalismo Gaúcho, que destinou R$ 16 milhões a 550 entidades tradicionalistas. O programa oportuniza o desenvolvimento de atividades como as dos grupos de tradições que participam do Enart.

